Eu escrevo um caixão de gravetos, uma toca de terra; papiro para untar meus restos mortais. Eu escrevo uma salva de saudade, um funeral de flores; epitáfio para demarcar onde a vida morre em paz. Eu escrevo um esqueleto de cálcio sobre o qual nasço, cresço e morro. Você, antropólogo forense, leia meus ossos e relate em corte marcial os crimes e torturas que a vida e o homem afligiram a minha pessoa.

O amor se acumulou dentro de mim até assumir o espaço negativo de uma pessoa inteira.

O que eu quero? Eu não sou mais a mesma pessoa e anseio acalentar esse não mais eu e niná-lo até o além.

Telescopicamente eu sou um ponto, microscopicamente eu sou uma série de pontos; a olho nu eu sou uma pessoa.

Há em mim uma infinidade de pessoas trancafiadas umas na outras.

Algumas pessoas fumam pedra, o que explica certas atitudes; outras parecem que fumam pedra, pois explicaria várias atitudes.

Me afeiçoei a sua pessoa, cidadão a quem escrevo.