A leitura é só um pretexto para que nossos corpos fiquem colados, como uma escultura, fundidos de maneira que ao tentar separar um do outro, ou a obra permance intacta ou ela se perde por completo

Desde a infância, quase todos meus hiperfocos foram artísticos. Em outras palavras, nasci para ser artista. É mais forte do que eu.

Escrevia com propósito. Escrever era o seu modo de dizer ao mundo: “Eu estive aqui. Não é perfeito. Não é nenhuma obra de arte. Mas é algo meu. Nosso”. A história compartilhada com os leitores deixava de ser dele, abria suas pequenas e frágeis asas e deixava se levar pelo ar.

No nosso pacto, minha escrita quis casar com sua arte e se imortalizar no universo.

Tinha um medo terrível de últimas páginas, últimas linhas, últimas palavras. Preferia deixar o peito aberto e sentir a tinta rasgando suas folhas e costurando outras. No final, havia sempre algo inacabado, aberto a múltiplas possibilidades. Um eterno ciclo de aprendizados. E as histórias, elas nunca o deixavam sozinho.

Enquanto a terra caía sobre ele, pensara que não havia morte pior do que a dos sonhos.