Eu escrevo um caixão de gravetos, uma toca de terra; papiro para untar meus restos mortais. Eu escrevo uma salva de saudade, um funeral de flores; epitáfio para demarcar onde a vida morre em paz. Eu escrevo um esqueleto de cálcio sobre o qual nasço, cresço e morro. Você, antropólogo forense, leia meus ossos e relate em corte marcial os crimes e torturas que a vida e o homem afligiram a minha pessoa.

Numa terra de asfixia nos beijamos como se egoistamente quiséssemos roubar o oxigênio um do outro e sobre a frieza nós deslizamos até nos abraçarmos um no outro com todo amor, todo amor próprio necessário para roubar o calor do corpo de alguém. E antes que cheguemos a tanto: se jogue ao abismo, de mãos dadas comigo.

Eu escrevo uma literatura de uma sensualidade erógena inorgânica: água brotando da terra.

Tomo a mão da intuição e juntos saltitamos os padrões de calçada cada vez mais comidos pela terra.