9 Quotes by Pedro Boucherie Mendes

Quem faz televisão em Portugal sabe que qualquer programa legendado em horários nobres tem pior audiência do que programas falados em português (com exceção, nos últimos anos, dos filmes em alturas de Natal e Ano Novo), também porque muita gente nem sequer consegue ler as legendas.

A ideia que as pessoas são interessantes só porque são exóticas é obviamente falsa, apesar de muitas vezes cairmos nessa falácia.

A televisão serve para os dias de finais de futebol, para gripes e constipações, para sabermos as notícias, ouvirmos os debates e, mais recentemente, para estarmos nas redes sociais a gozar enquanto a vemos. Fora isso, não parece servir para nada.

Antigamente, com quatro canais apenas, poderíamos criticar a televisão por servir mais do mesmo, mas atualmente, com tantos canais, tanta oferta variada, a verdade é que continua a haver três a quatro milhões de pessoas que seguem telenovelas todos os dias.

Achar que já ninguém vê novelas, que ninguém, a não ser reformados, vê os programas da manhã, ou que todos querem ver séries, são generalizações falsas, mas que parecem muito poderosas.

Em tempos de abundância e excesso de criatividade, as séries não se podem permitir o luxo de dificultar a vida aos espectadores, embora algumas façam por isso, por ser complexas, lentas e desafiantes, como que a dizer que a melhor televisão implica esforço do seu público.

Até agora, a melhor televisão do século XXI restringe-se quase só a séries (e a alguns documentários) e tem apostado que o espectador merece mais qualidade e sobretudo mais humanidade.

Dir-se-ia que o problema do final das séries é o mesmo com tudo aquilo de que gostamos e em que investimos emocionalmente: custa-nos. O que importa, diria eu, é deixar partir a série, ficar com as boas memórias e saber fazer o luto.

Quando se revê uma série de uma ponta à outra (cujo final não era previsível na altura em que foram filmados os episódios iniciais), nota-se por vezes incongruências que atrapalham um juízo da série como um todo, como uma obra.